Últimmas Folhas

6 de agosto de 2006

Morangos Amargos

Morangos Amargos

Conveniência ou não, egoísmo ou o que seja, medo ou instinto, o fato é que amar é algo necessário. Amar a palavra em forma plena, absoluta, incondicional. Amar a si próprio, a vida - a outros. Outros? Pai, mãe, amigos, memórias - alguém. Alguém? Mas quem? Um namorado ou namorada, talvez? Talvez. Ou amar a si próprio e mais ninguém - ser amado, isso sim. Dez entre dez pessoas querem ser amadas. Mas talvez nem todas queiram amar, e algumas outras ainda querem amar mas não encontram quem. Amar a idéia de amar é uma saída bastante satisfatória, apesar de angustiantemente frustrante.
E é nessas horas que vemos que a frase "quem procura acha" está radicalmente errada. Procurar a quem amar só levará a um único lugar: a sua própria casa, com seus próprios devaneios, comendo morangos amargos e se perguntando "onde estará?". Não, não adianta procurar. Da forma mais moderna ou antiquada, não adianta procurar. Nem em festas, nem em shows, nem naquele Café romanticamente francês ou no teatro Santa Isabel folheado a ouro. Não adianta procurar, você não vai terminar essa busca nunca.
E lá vem, devaneios e morangos amargos - alguém poeta, alguém artista, alguém risonho, alguém leviano. O que seja, parece impossível encontrar. Sentir amor acima do amar, sentir mais do que se pode exprimir ou demonstrar - irracional, nada mais. Mas amores só se acham quando não se procuram. Talvez naquela esquina nada romântica, recheada de lixo em decomposição, onde o mendigo rasteja, a procura de seu amor - devorar seu amor, mesmo podre e obsceno.
Por que deveria-se acreditar em outra coisa mais senão o acaso? Não adianta procurar - sente-se em seu sofá, ligue a TV e engula morangos amargos, banhados em leite condensado.