Últimmas Folhas

29 de janeiro de 2007

A poesia mais breve

A Poesia Mais Breve

Estou ficando louca.
E sei exatamente por quê.

Onde está toda aquela poesia
que eu queria aqui
escrever?

Perdida dentro de mim,
entalada na garganta.
Com o arroz e feijão
da hora do almoço.

E é breve assim
porque nunca pensei
da forma tão-rápida
que pensei agora.

7 de janeiro de 2007

O Que mais Mata

O QUE MAIS MATA
medo,
miséria,
raiva,
escopeta.


catástrofe,
burrice,
egoísmo e
lambreta.


impaciência,
hipocrisia,
bebida e
mutreta.

1 de janeiro de 2007

Brevíssima

"Faz um tempo eu quis
fazer uma canção
pra você viver mais"
Pato Fu - "Canção pra Você viver mais"

Brevíssima


E às vezes eu me surpreendo: como posso suportar a mim mesma por tanto tempo? É uma pergunta sem resposta, e isso me irrita profundamente.

Viva, borboleta, viva da forma pueril e breve de sempre. Mostre-me tudo o que eu não conheço e, ainda assim, me lembro de conhecer. Aquela memória que vem, me assalta, me mata de saudades e depois diz: você não me viveu. E continua a me matar de saudade. E continua a me fazer lembrar de sóis e pessoas e lugares e sentimentos que não conheço. Que me faz arrancar minhas raízes e colocá-las ao vento, esperando que ele me leve para aquela lembrança que eu não tenho, mas que me mata. Que me mata e que me prende.

Dejá vù, eles dizem. Saudade, digo eu.

Devolva-me minha vida, minhas memórias (verdadeiras, que não me doem) e minhas meias de dormir, Borboleta. São pretas, quentinhas e macias, como algemas suaves nos meus pés. Tente enganar ao Diabo e aa Deus, mas não tente me enganar. Eu sofro da saudade que mata, e nada mais.

O sol vai sumindo, as nuvens são têm uma textura colorida que desconheço, as árvores se acalantam e a saudade vem com o vento. E me prende em minhas meias, minhas raízes e na grade do meu quarto. O céu se divide em dois: o de ontem e o de depois, e a saudade que vem e invade dizendo "vós sois...?".

Me invade, me indaga e me faz querer voar como você, Breve Borboleta. Para aquelas memórias que não tenho, para aquela vida que nunca vivi, para aquele mistério que corrói minha alma e envenena minha mente - minha realidade.

Pois o que o vento trás consigo, Pueril Borboleta, é ilusão de terras que nunca vi, mas que me lembro e que consigo cheirar no ar, como o perfume de coisa alguma aa minha volta. E isso estraçalha minha realidade, esmaga minha alma e me mata de saudade. Onde está o pássaro que queria voar? Onde está a onça que é minha alma, que outrora num bote devorava a morte e a saudade? Onde está?

Foi você que levou. Brevíssima Borboleta. Me deixou desarmada: sem pássaro, onça ou alma. Me deixou vazia, na minha mente - minha realidade -, e voou com tudo que era meu.

Menos com minha saudade que mata. Que mata e corrói um corpo sem alma. Que não sente nada.
Só essa maldita saudade, que me mata de saudade da saudade que não sinto mais.


"And she says [...]
'You?re six foot tall and east coast bred
Some lonely night we can get together
And I?m gonna tie your wrists with leather
And drill a tiny hole into your head
I'm gonna drill a tiny hole into your...' "
Andrew Bird - "Fake Palindromes"

26 de Dezembro de 2006.