Attili suspirou com pesar quando colocou o vaso de cerâmica
vazio sobre a cabeça e pensou no que ele significava – nada além do que realmente era: um vaso de cerâmica vazio,
acompanhado por outros dois vasos, cada qual com seu desenho próprio, mas todos
os três igualmente vazios, e igualmente sua responsabilidade. Sobre sua cabeça
o vaso negro se equilibrava, e se tornava uma mera afirmação visual da condição
de Attili – uma escrava da Casa das Mulheres do Imperador. Na mão esquerda,
acolheu o de cor avermelhada, e na direita, o vaso branco. Seu peso ainda era
leve – seria apenas na volta de sua viagem que, já cheios d’água, os vasos
arriscariam cair e espatifar-se no chão, causando-lhe ainda mais problemas. Em
meio a uma guerra às portas de casa, uma cidade deixada às mulheres sempre se
tornava um caos, diziam. E as mulheres da cidade de Abermás não eram diferentes:
desde que os homens partiram Attili se viu enroscada em mais problemas e
críticas do que poderia imaginar. As mulheres do imperador eram insaciáveis,
ela sempre soubera, mas nunca precisara trabalhar tão de perto e por tanto
tempo com elas. Na paz, ela quase nunca era requisitada.
Enquanto caminhava pelo pátio pouco movimentado, na primeira
luz da matina, a escrava considerava profundamente sua atual situação. Sempre
conseguia pensar melhor ao ar livre, e com o sol da manhã ainda tímido por trás
das colinas de Leste, tudo parecia descortinar-se à sua frente. De repente,
todos os seus problemas pareciam simples ante a luz cálida da manhã, refletida
nas pedras lisas e claras do pátio interno. A velha árvore no meio já havia há
muito perecido, restando apenas seu tronco retorcido e sem vida, mas era uma
bela visão mesmo assim: Attili conhecia o ângulo certo para contemplá-la, de
forma que visse o tronco fino e seco, e por trás dele a amurada de pedra clara,
e ainda depois, o mar azulado da manhã, e ainda depois desse, as colinas de
Leste, – até, enfim, chegar ao Sol. Por alguns instantes, Attili acreditava que
se simplesmente caminhasse em linha reta, atingiria o Reino do Sol.
Bastava sentar-se na pedra certa, bem ao lado da bica d’água,
enquanto esperava os vasos encherem com o filete de água que saía placidamente
da boca da bica.