Últimmas Folhas

30 de setembro de 2009

Gabriela e sua janela amarela


Gabriela, como todas as outras iguais a ela, tinha uma casa com várias janelas.

Gabriela, como todas as outras iguais a ela, gostava de olhar através delas – daquelas já ditas janelas.Mas Gabriela, não como as outras iguais a ela, tinha uma janela diferente em cor e tramela.


Gabriela tinha uma janela amarela, da cor de sonho e de trela.


E por ela observava, dia e noite, noite e dia – a toda hora que podia.

E uma história nova daquelas olhadelas sempre aparecia.


Seus pais e amigos, mais do que aturdidos, pensavam: “o que será que há com ela?”

E Gabriela, toda educada e bela, apenas dizia: “é apenas aquela bela cor amarela!”

Mas aquela janela de Gabriela era muito mais que amarela. Era mágica mesmo, uma verdadeira aquarela.

E por ela Gabriela via passar cidadelas, ruelas, capelas, velas, querelas, donzelas...

Tantas eram as histórias mais do que belas!


E corria aos seus amigos, para contar-lhes as histórias de perigos.

E todos ouviam, e todos pensavam: “Gabriela, Gabriela, essas histórias, quem te revela?”

Seria mesmo a tal janela amarela?


Dia e noite, noite e dia – e sempre uma história nova se fazia!

“Gabriela, Gabriela, essas histórias, quem te revela?”

E Gabriela apenas sorria e dizia: “é apenas aquela bela cor amarela!”


Mas aquelas histórias...

Devia ser mesmo a tal janela amarela!

Janela aquarela,

que soprava com sua cortina as histórias no ouvido de Gabriela.


E pela janela Gabriela olhava e se encantava...

E assim o tempo passava... Para ela, suas histórias e sua janela.


Um dia, Gabriela cresceu.

Virou professora do maternal

e sua janela amarela, Edifício Empresarial.

O mais estranho, porém, é que Gabriela continuava a mesma: bem diferente do que chamamos normal.

E com mais e mais histórias, num eterno carnaval!

E os amigos mais antigos, e seus pais queridos:

“Gabriela, Gabriela, essas histórias, não era a tal janela amarela?”


E Gabriela, sempre educada e bela, apenas dizia:

“era apenas aquele mundo-aquarela!”