Gabriela, como todas as outras iguais a ela, tinha uma casa com várias janelas.
Gabriela, como todas as outras iguais a ela, gostava de olhar através delas – daquelas já ditas janelas.Mas Gabriela, não como as outras iguais a ela, tinha uma janela diferente em cor e tramela.
Gabriela tinha uma janela amarela, da cor de sonho e de trela.
E por ela observava, dia e noite, noite e dia – a toda hora que podia.
E uma história nova daquelas olhadelas sempre aparecia.
Seus pais e amigos, mais do que aturdidos, pensavam: “o que será que há com ela?”
E Gabriela, toda educada e bela, apenas dizia: “é apenas aquela bela cor amarela!”
Mas aquela janela de Gabriela era muito mais que amarela. Era mágica mesmo, uma verdadeira aquarela.
E por ela Gabriela via passar cidadelas, ruelas, capelas, velas, querelas, donzelas...
Tantas eram as histórias mais do que belas!
E corria aos seus amigos, para contar-lhes as histórias de perigos.
E todos ouviam, e todos pensavam: “Gabriela, Gabriela, essas histórias, quem te revela?”
Seria mesmo a tal janela amarela?
Dia e noite, noite e dia – e sempre uma história nova se fazia!
“Gabriela, Gabriela, essas histórias, quem te revela?”
E Gabriela apenas sorria e dizia: “é apenas aquela bela cor amarela!”
Mas aquelas histórias...
Devia ser mesmo a tal janela amarela!
Janela aquarela,
que soprava com sua cortina as histórias no ouvido de Gabriela.
E pela janela Gabriela olhava e se encantava...
E assim o tempo passava... Para ela, suas histórias e sua janela.
Um dia, Gabriela cresceu.
Virou professora do maternal
e sua janela amarela, Edifício Empresarial.
O mais estranho, porém, é que Gabriela continuava a mesma: bem diferente do que chamamos normal.
E com mais e mais histórias, num eterno carnaval!
E os amigos mais antigos, e seus pais queridos:
“Gabriela, Gabriela, essas histórias, não era a tal janela amarela?”
E Gabriela, sempre educada e bela, apenas dizia:
“era apenas aquele mundo-aquarela!”