O Dr. Pratcraft havia se cansado daqueles velhos discursos. Havia anos que não fazia mais nada além de tentar refutá-los -- em sua mente, é claro. Porque ele sabia que, se ousasse colocar suas idéias em papel, se tornaria uma piada. E, infelizmente, um homem como ele não podia se tornar uma piada. Afinal, ele dependia de sua seriedade para se sustentar -- se a perdesse, perderia também seu pão de cada dia e o livro de cada tarde. E então, como viveria, sem pão e sem livro?
Não, não -- o Dr. Pratcraft havia, há muito, chegado a conclusão de que o melhor era ficar calado... Calado feito uma bem-comportada porta do mundo real, que finje não sentir os socos e pontapés e cutucões que os outros dão nela. Havia bastado um comentário, uma simples revolta juvenil, ainda no começo de sua carreira, para perceber isso. Àquela época, ainda era inocente quanto aos rumos de sua carreira e ao mundo: ninguém havia lhe dito que não há nada mais cruel que um crente entre descrentes, e esse era exatamente o caso do Dr. Pratcraft. Cercado por homens da ciência, com egos estratosféricos e longos narizes voltados para o radiante sol, era difícil manter a compostura, principalmente quando o assunto era literatura.